Senhor Teixeira
Mas, mesmo com as pessoas morando em ilhas, ele sente que elas eram mais felizes:
“Agora entra-se num apartamento e ninguém conhece ninguém, ninguém salva ninguém, ninguém responde a ninguém.”
Não que o senhor António também não seja muito ocupado, mas ele sempre está disponível a ajudar no que é possível, inclusive quando o pessoal que está agora na antiga escola primária lhe pede alguma ajuda. Tesoureiro da centenária Banda de Matosinhos, ele mesmo diz:
“Desejo o bem a toda a gente”
No estabelecimento que ele tem em sociedade com o irmão, é possível encontrar inúmeros eletrónicos e novidades que facilitam a vida moderna, em geral.
Bem em frente à Rua da Cruz de Pau 20, onde estão hoje e onde funciona a assistência técnica que possuem, ficava o único Multibanco desta zona, que foi explodido na madrugada do dia 10 de outubro de 2017. O forte estrondo ficará na lembrança e os danos foram muitos. Saiu até nos jornais: “De acordo com a fonte da PSP, testemunhas disseram ter visto cinco homens, com a cara tapada e munidos de pelo menos uma arma de fogo. Os assaltantes faziam-se transportar numa viatura preta, de alta gama”.
Senhor António, que mora aqui perto, foi avisado pelo telefone, de noite. Ficou o susto e o prejuízo, sem dizer que o Bairro todo perdeu a conveniência de ter por perto um local para levantar dinheiro. Em 2015, já haviam sofrido um assalto à mão armada, bem na hora do abastecimento da máquina.
Transmontano, ele veio para Matosinhos porque o pai, senhor Manuel Jaime, comprara o imóvel ainda em construção. Como ele tirara o curso industrial na João Gonçalves Zarco, onde se aprendia tudo referente à parte elétrica e logo dava saídas para o mercado de trabalho, fazia valência de eletrotecnia. Com o mesmo curso, seu irmão foi dar a volta ao mundo, no navio- escola Sagres, como eletricista. No retorno, senhor António convidou-o para ser seu sócio. Começaram com um Centro de Assistência, em 1989.
Ele conta que, há cinquenta anos, um taxista só vinha aqui se fosse de dia. Sabe disso porque este era o ofício de seu pai. Mas, mesmo com as pessoas morando em ilhas, ele sente que elas eram mais felizes:
“Agora entra-se num apartamento e ninguém conhece ninguém, ninguém salva ninguém, ninguém responde a ninguém.”
É claro que havia tricas, claro, mas ele também reconhece que os antigos moradores são uma riqueza do Bairro. Mesmo sendo pessoas com falta de muita coisa, têm uma alma de ajuda, basta alguém precisar que elas se mobilizam. Ao menos, hoje é tudo muito sossegado e andam, com a especulação imobiliária, surpreendentemente a pedir setecentos mil euros por um T1.
As senhoras do Bairro vão à sua loja de olhos fechados. Outro dia, uma delas animou-se a dançar ali mesmo.
“A música nestas pessoas toca-lhes a alma.”
Senhor António admira-se como, mesmo idosas, as clientes andam atualizadas sobre os telemóveis e aplicativos, principalmente o Facebook.
Ele as orienta e facilita-lhes o crédito na medida do possível. Com tanto tempo no comércio, ele tem uma apurada perceção das pessoas. Como? Como comerciante, ele aprendeu a psicologia da vida.